8 de dezembro de 2011

Sobre o mundo.


Ainda sobre vícios..
O mais recente é a série "Californication", que conta a história de um escritor com apenas um livro de sucesso e em crise de inspiração. Onde o personagem principal, Hank Moody é ambivalente, talentoso e instável, o qual trafega em uma sinuosa jornada de álcool, vícios e mulheres, mas que almeja, ao mesmo tempo e sobretudo, restabelecer a antiga relação amorosa com sua ex-companheira, com a qual tem uma filha pré-adolescente.
Pois bem, ao fim do episódio 2x10 Hank é surpreendido pela gravidez da então quase desconhecida, Karen. Completamente apavorado ele desconsidera sumariamente a possibilidade de terem o bebê, no entanto, ao fim ele se dá conta da oportunidade única que tem em suas mãos e o receio da possibilidade de perdê-la. Diante disso opta pelo risco de passar por aquilo juntos redigindo uma carta que seria enviada ao término do último encontro... E eu (por um efêmero momento positivista, devaneiador) achei aquelas palavras de uma sinceridade tão surreal, tão 'não-clichê', tão 'aquilo que eu sempre quis ouvir', mas após o momento raro, me recompuz, aquilo nada mais era que ficção.

“Querida Karen, se está lendo isso é porque eu realmente tive coragem de enviar. Então, bom para mim! Não me conhece muito bem, mas se deixar, verá que tenho tendência a falar que tenho dificuldade para escrever, mas isso… Isso é a coisa mais difícil que já tive que escrever. Não há maneira fácil de dizer, então vou falar logo. Conheci uma pessoa. Foi um acidente. Eu não estava à procura e não estava preparado. Foi uma tempestade perfeita. Ela falou algo, eu também. Quando vi, queria passar o resto da minha vida nessa conversa. Agora estou com a intuição de que ela pode ser a mulher certa.Ela é totalmente louca, de um jeito que me faz sorrir, altamente neurótica. Uma grande dose de manutenção necessária. Ela é você, Karen. Essa é a boa notícia. A má é que não sei como ficar com você nesse momento. E isso assusta pra caralho. Porque se não ficar com você agora, sinto que nos perderemos. O mundo é grande, mal, cheio de reviravoltas. As pessoas costumam piscar e perder um momento. O momento que poderia mudar tudo. Não sei o que está acontecendo entre nós, e não posso dizer por que você deveria gastar um pouco de fé em alguém como eu. Mas como seu cheiro é bom, como o lar! E faz um ótimo café, isso tem que valer alguma coisa. Me liga. Infielmente seu, Hank Moody.”


'Meu' Hank Moody, se você existe, se ainda não me encontrou por aí, apresse-se, o tempo passa e o mundo é mal.

Devaneiamente, eu. rs
;*



15 de outubro de 2011

Sobre vícios (2).



Vício - sm. 1.Defeito grave que torna uma pessoa ou coisa inadequadas para certos fins ou funções;
4.Conduta ou costume censurável ou condenável; libertinagem, licenciosidade, devassidão;
6.Costume prejudicial; costumeira;

Para definir vício eu usaria unicamente a palavra apego. Você se vicia em algo quando passar a ter tamanha afeição por esse algo, quando nada lhe dá mais prazer senão a posse da tal coisa. Bem, todo ser humano, está suscetível à vícios, não poderia ser diferente comigo. No entanto, sabemos que comigo as coisas são mais tortas, confusas, intricadas.. Enfim, use você o adjetivo que achar melhor. Pois bem, sabendo disso, dei-me conta que tenho vício em vícios.
Eu não sei ser só, preciso de apegos. (Não precisa me dizer que isso é inócuo, inadequado e demonstra uma gama de fraquezas juvenis, pois eu estou ciente disso.) Eu poderia inclusive sentar-me aqui e citar uma infinitude de vícios e suas respectivas razões, mas seria uma longa história e eu não tenho tempo agora para uma longa história, a não ser que você tenha interesse e me questione sobre elas.. terei prazer em contá-las. rs Bem, entre tantos vícios/apegos tenho um em especial: séries. Principalmente as americanas, com toda aquela cenografia, nas cidades mais luxuosas e encantadoras do mundo, todo aquele romance exacerbado, onde aqueles atores cheios de empolgação dizem coisas que eu (e toda menina/mulher de que se tem conhecimento) sempre quis ouvir e/ou dizer. Onde tudo dá sempre certo, todo mundo fica com quem tem que ficar, onde os mocinhos nem sempre tão bonzinhos, se amam e ninguém, por mais que tente, consegue separá-los. Eu pessoalmente não consigo imaginar uma pessoa que não desejasse uma vida daquelas. Como não poderia ser diferente eu acompanho várias dessas fantásticas séries.. vai de vampiros, lobisomens, New York à séries médicas. Nessa tarde, antes de redigir esse rios de bobagens totalmente dispensáveis, eu estava numa maratona de "grey's anatomy", assistindo um episódio seguido de outro, como se não tivesse uma infinidade de coisas a fazer, como estudar a temida IED e Ciência Política para um seminário que apresentarei pra uma turma de 80 alunos e uma professora que não vai muito com minha cara, mas isso não vem ao caso. Como eu dizia.. esse é meu vício/apego atual, onde eu desando a chorar, além de me identificar com metade dos personagens a cada episódio, comparando suas histórias às minhas, tentando usar seus métodos fictícios pra resolver meus problemas reais. Meredith Grey com sua sensibilidade, problemas familiares, e seu relacionamento inconstante que lhe causa mais mal do que qualquer outra coisa, mas ainda assim ela continuam insistindo. (onde eu me assemelho)Cristina Yang, com aquela personalidade fria, manipuladora, obcecada em realizar seus objetivos (que é o que eu adoraria ser com todas as minhas forças). Enfim.. nesta tarde, eu fiquei instigada num diálogo entre a cirurgiã ortopedista Callie e George, onde ela inconformada com as indecisões do rapaz, diz tudo que eu gostaria de ter dito um dia, ou talvez já tenha dito, mas que seria tão melhor compreendido se fosse dito daquela maneira...


Callie: "Eu fui rude com você, me desculpe. Eu entendi o que você quis dizer, você estava comprometido conosco. Você é comprometido. Quando terminamos, eu esperei ouvir isso de você por muito tempo, e você espera até agora pra me dizer isso, depois de termos terminado? Estou fora do meu centro aqui, eu quebro ossos pra viver.. eu passo a maior parte da noite trabalhando. Não ligo a mínima para o que as pessoas pensam sobre mim. Porque eu sou uma feliz, independente e bem sucedida mulher... e eu gosto de ser assim. Só que quando você diz essas coisas... tornam as coisas muito difíceis.. então por favor.. não venha mais atrás de mim. Ao menos que você queira ficar comigo."


Fiz minhas, suas palavras.
Porque quando se aproximas, me torno o que não sou, o que abomino. Então afaste-se!

Au Revoir!

19 de fevereiro de 2011

Sobre desistências.


Desisti. E isso é a coisa mais triste que tenho a dizer. A coisa mais triste que já me aconteceu. Eu simplesmente desisti. Não brigo mais com a vida, não quero entender nada. (…) Vou nos lugares, vejo a opinião de todo mundo, coisas que acho deprê, outras que quero somar, mas as deixo lá. Deixo tudo lá. Não mexo em nada. Não quero. Odeio as frases em inglês, mas o tempo todo penso “I don’t care”. Caguei. Foda-se. (…) Me nego a brigar. Pra quê? Passei uma vida sendo a irritadinha, a que queria tudo do seu jeito. Amor só é amor se for assim. Sotaque tem que ser assim. Comer tem que ser assim. Dirigir, trabalhar, dormir, respirar. E eu seguia brigando. Querendo o mundo do meu jeito. Na minha hora. Querendo consertar a fome do mundo e o restaurante brega. Algo entre uma santa e uma pilantra. Desde que no controle e irritada. Agora, não quero mais nada. De verdade. (…) Não quero arrumar, tentar, me vingar, não quero segunda chance, não quero ganhar, não quero vencer, não quero a última palavra, a explicação, a mudança, a luta, o jeito. (…) Quero ver a vida em volta, sem sentir nada. Quero ter uma emoção paralítica. Só rir de leve e superficialmente. Do que tiver muita graça. E talvez escorrer uma lágrima para o que for insuportável. Mas tudo meio que por osmose. Nada pessoal. Algo tipo fantoche, alguém que enfie a mão por dentro de mim, vez ou outra, e me cause um movimento qualquer. Quero não sentir mais porra nenhuma. Só não sou uma suicida em potencial porque ser fria me causa alguma curiosidade. O mundo me viu descabelar, agora vai me ver dormir e cagar pra ele. Eu quis tanto ser feliz. Tanto. Chegava a ser arrogante. O trator da felicidade. Atropelei o mundo e eu mesma. Tanta coisa dentro do peito. Tanta vida. Tanta coisa que só afugenta a tudo e a todos. Ninguém dá conta do saco sem fundo de quem devora o mundo e ainda assim não basta. Ninguém dá conta e… quer saber? Nem eu. Chega. Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é. Desde que eu continue dormindo. Ser invisível, meu grande pavor, ganhou finalmente uma grande desimportância. Quase um alivio. I don’t care.

Tati Bernardi

E isso é tudo, diz tudo.

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9 de fevereiro de 2011

Uma crônica a respeito desse homem maravilhoso ...


Venho por meio dessa lhe informar do prêmio. Será entregue em sua residência. Em plástico bolha, fita crepe, caixa de papelão, papel dourado espelhado.
Pode colocar na mesinha preta, ao lado daquele troço legal que sua mãe te deu. Uma peça de design chique e um coração ensanguentado.
Vão te perguntar de onde vem aquele coração e você vai ter mais uma história pra contar baixinho, no ouvido das garotas: essa é boa, quer ouvir? Eu no meio de suas carrancas, cabeças de faraós, estrelas e leões. O vencedor.
Pode voltar a respirar, pode fechar a janelinha emperrada da cozinha. Caso fique pesado para a sua decoração, me deixe com os bonequinhos do banheiro.
Não serviu a saudade que eu sentia só porque você espremia saquinho por saquinho do shoyo longe de mim. Nem era longe, era logo ali, mas eu sentia saudade. Você queria uma prova, você queria a cabeça pra levar pro rei do seu peito. Você queria decapitar a mente que poderia te magoar.
Eu jurei, um dia, vendo você dormir e gostando tanto de você pra pouco tempo, que não teria medo e seria doce e não escreveria uma linha e você seria o escolhido pra não ser mais um escolhido.
Mas você levou meu coração, então só me resta a maldade, a bondade contrariada, que sempre me faz recorrer ao lugar comum de escrever um texto. O lugar onde tanta gente já esteve, o que é uma mentira só pra te ferir. O amor não é um jogo mas você ganhou.
Daqui a pouco você vai se perguntar o que faz exatamente com isso, se não era melhor ter me deixado com o coração, assim eu poderia continuar gostando de você. Eu gostar de você só é um mérito se eu puder ir junto.
Talvez você me mande de volta o prêmio, a caixa rasgada, o papel dourado amassado, o laço frouxo, o coração assustado. E me peça que continue apenas sentindo saudade de quando você demora com os saquinhos de shoyo.
Pra gente voltar de onde se tem coragem. De onde a pressa é angustia solitária e não um caminhão de lixo que se joga no outro. De onde a insegurança é um gatinho preso numa jaula alta e não um tigre alimentado pelo ego. O amor recém-nascido e alimentado com água pura. Eu estava nele quando você achou que diminuindo seu ritmo você aumentaria suas chances.
O triste, e por isso eu te ligo e reclamo que é solitário, é que enquanto você pensa em chances, ritmos e ganhos, eu só penso em você.

(Tati Bernardi)

23 de janeiro de 2011

Eu vim aqui me buscar...


E aqui parecia ser longe, muito longe do lugar onde eu estava, o medo costuma ver as distâncias com lente de aumento. Vim aqui me buscar porque a insatisfação me perguntava incontáveis vezes o que eu iria fazer para transformá-la e chegou um momento em que eu não consegui mais lhe dizer simplesmente que eu não sabia. Vim aqui me buscar porque cansei de fazer de conta que eu não tinha nenhuma responsabilidade com relação ao padrão repetitivo da maioria das circunstâncias difíceis que eu vivenciava. Vim aqui me buscar porque a vida se tornou tediosa demais. Opaca demais. Cansativa demais. Encolhida.

Tati Bernardi.

22 de janeiro de 2011

Sobre fantasias.


"Enquanto ouvi no rádio uma música que parecia conhecida. Dizia qualquer coisa como "a realidade não importa, o que importa é a ilusão", no que eu concordava plenamente. Pelo menos nos últimos meses, não me acontecera nada além de fantasias. Mas a música que ressoava em algum porão da memória era antiga como um bolero, um fox, e o que saía do rádio agora era um desses rocks com baixo elétrico desesperados, percussão envenenada e sintetizadores histéricos. A voz da cantora lembrava vidro moído num liquidificador. De qualquer forma, pensei, a letra está certa. E todas as coisas que eu lembrava, ou achava que lembrava, porque de tanto lembrar delas acabara por transformá-las em mera - e péssima - literatura, já não importavam mais...."


Como sempre.. de Caio F Abreu...