2 de abril de 2012

SAVE ME!



"Mas tudo fica estranho quando a madrugada vem..."


Sete bilhões de pessoas no mundo. Metade vive, a outra parte apenas existe. Em algum lugar alguém está nascendo, contemplando o mundo com sua alma, trazendo alegria para quem estava à sua espera, anunciando sua chegada com um choro estridente e ensurdecedor. Nesse mesmo momento outro alguém agoniza de dor, inconformado por alguma desilusão, clamando sua morte por ser fraco e não suportar os encargos que a vida lhe ofereceu. Nesse exato momento alguém está ouvindo o canto dos pássaros e procurando entender o que é a vida. Agora mesmo algum casal troca juras eternas de amor, ao som de Chico, Caetano, ou outra canção melosa da moda; Alguém está estonteantemente feliz, sentindo a felicidade penetrar em seus poros, apenas por contemplar o nascer do sol e a delicadeza dos girassóis. Neste exato momento um coração está sendo dilacerado. Existe alguém admirando o mais belo sorriso que já existiu, boquiaberto com tamanho encanto. Em qualquer outro ponto do mundo alguém se contorce em sua cama sem conseguir encostar a cabeça em seu travesseiro, sua consciência pesa por tentar fugir de sua sina e sua essência, por tentar deixar de ser quem sempre foi, porque tem medo do que pode tornar a ser. Algum coração sangra porque o amado não retribuiu com tanta intensidade e atenção todo o amor ofertado pelo amante. Alguém está com medo do bicho papão que é o mundo, algumas pessoas estão levantando de seu sono tranquilizador e se preparam mais uma vez para enfrentar a vida. Alguns não têm sequer o que comer, enquanto outrem escolhe qual bolsa PRADA combina melhor com seu batom de marca. Algum descontente reclama da vida querendo provar que o mundo é injusto. O mundo é injusto, irmão! Um labirinto, um jogo às escuras. Quem tem mais vale mais, quem não tem nada não é ninguém. Muitos quiseram mudar isso e morreram tentando. Não basta querer, tem que fazer. E pasmem! Não resta nada a se fazer. Nesse momento o sol já nasceu, a madrugada se esvaiu pelo tempo. Nesse momento alguém se sente só, sente os olhos pesados, olha no espelho os resultados que a insônia lhe causou. Lava o rosto, apaga a luz, acende um cigarro e sai para viver. Ou para existir. Salve-me! Salve-se!

(annemoniqueh 02.04.2012, 06:12 am.)

11 de março de 2012

É proibido sofrer?


Instaurou-se a ditadura de que nós, seres saudáveis de duas pernas, dois braços, ouvintes e falantes não podemos mais sofrer. Sofrer é artigo de luxo de quem tem alguma enfermidade, doença mental, a ausência de algum (ou alguns) de seus membros, de quem passa fome ou perdeu os pais. Senhores, sinto muito vos decepcionar, mas eu estou viva! Sofrer é premissa para viver. Estar vivo nos coloca à disposição dos acasos que podem nos trazer felicidade, paz, mas também pode nos trazer sofrimento e somos livres para, entre outras tantas e improváveis coisas, sofrer. Posso sofrer e espalhar meu sofrimento onde bem entender. Posso compartilhar minha agonia de um dia, uma semana ou um mês ruim, posso ainda sofrer porque não obtive um resultado esperado, porque não tive um querer recíproco ou por minha solidão, embora opcional, estar deveras me incomodando. Veja bem, eu não gosto de sofrer, eu não quero sofrer, mas sou livre para isso. Não é porque alguém tenha problemas aparentemente mais relevantes e que os meus não vão influenciar em nada no desenvolvimento e aleatoriedade do universo, que eu deva me abster de externar minhas dores e insatisfações. Posso sim, vez ou outra, ou muitas vezes, querer o colo de alguém pra vomitar meus fantasmas. Posso sim querer mostrar ao mundo que as coisas realmente andam longe de ser perfeitas, quero fazer parte da estatística que mostra que os terráqueos possuidores de todos os membros sentem dor, aflição e medo. Não quero ficar em silêncio porque quando tudo está calmo, sem som, sem cor, o branco pode ser breu.

Assim como o choro, o sofrimento é livre!