11 de março de 2012

É proibido sofrer?


Instaurou-se a ditadura de que nós, seres saudáveis de duas pernas, dois braços, ouvintes e falantes não podemos mais sofrer. Sofrer é artigo de luxo de quem tem alguma enfermidade, doença mental, a ausência de algum (ou alguns) de seus membros, de quem passa fome ou perdeu os pais. Senhores, sinto muito vos decepcionar, mas eu estou viva! Sofrer é premissa para viver. Estar vivo nos coloca à disposição dos acasos que podem nos trazer felicidade, paz, mas também pode nos trazer sofrimento e somos livres para, entre outras tantas e improváveis coisas, sofrer. Posso sofrer e espalhar meu sofrimento onde bem entender. Posso compartilhar minha agonia de um dia, uma semana ou um mês ruim, posso ainda sofrer porque não obtive um resultado esperado, porque não tive um querer recíproco ou por minha solidão, embora opcional, estar deveras me incomodando. Veja bem, eu não gosto de sofrer, eu não quero sofrer, mas sou livre para isso. Não é porque alguém tenha problemas aparentemente mais relevantes e que os meus não vão influenciar em nada no desenvolvimento e aleatoriedade do universo, que eu deva me abster de externar minhas dores e insatisfações. Posso sim, vez ou outra, ou muitas vezes, querer o colo de alguém pra vomitar meus fantasmas. Posso sim querer mostrar ao mundo que as coisas realmente andam longe de ser perfeitas, quero fazer parte da estatística que mostra que os terráqueos possuidores de todos os membros sentem dor, aflição e medo. Não quero ficar em silêncio porque quando tudo está calmo, sem som, sem cor, o branco pode ser breu.

Assim como o choro, o sofrimento é livre!

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